No sertão mesmo que chova, lava a terra e não empoça;
Com a família foi embora sem esperança o Zé da Roça.
Morava há muito tempo na chapada de uma encosta,
Esta história
que eu conto é a história do Zé da Roça.
“De
onde eu venho? Pra onde vou?
Estou sedento, com fome estou,
Estou sem rumo, mas vou chegar,
aonde todos possam falar.
Não estudei, nem sei falar,
Mas arrisquei tentar trabalhar.
Fiz algo errado, não fui compreendido,
Ficando calado fui excluído.
Era um pequeno erro, não chegou a ser
pecado,
No momento eu assumi que fui eu o tal
culpado.
Mas como a gente é omisso e não diz o que
pensa,
Se eu falasse a verdade não seria uma
ofensa.
Estou sedento, como fome estou
De onde eu vim eu sei,
Mas pra onde vou?
Fiquei sem direitos, tiraram também o meu
pão,
Não tenho mais minha morada,
Por tentar ser mais irmão.
Um menino já formado foi chegando lá na
empresa,
Foi quando faltou o pão, lá em casa em
nossa mesa.
Não critico o saber, muito menos a cultura,
Mas se houver a tal partilha, a pobreza
terá cura.
Nos caminhos desta vida, ando sempre noite
e dia,
Quero ter os meus direitos de ter paz e
harmonia.
E vejo que os irmãos índios, também estão
incomodados,
Estrangeiro em próprias terras nosso índio
é ameaçado.”
Se tivéssemos consciência, do que é feito com este
povo,
Dávamos um
basta na violência e começávamos de novo.
Este mundo é muito grande e há terra sem quantia,
Quanto mais o rico expande, o pobre anda em Romaria.
O próprio Cristo Filho Eterno, não se privou para
alguns poucos,
Mas me vem doutor de terno e me diz que
pobre é louco.
Ter direito não é loucura é ter paz no
coração,
Nós pedimos com ternura, sem matar o nosso
irmão.
Esta morte social, que derruba os
excluídos,
Pra Cristo o preferencial são os pobres e
desvalidos.
E eu pergunto a mim mesmo: O que é que está
errado?
Falta água, terra e pão, para Deus isto é
pecado.
Deus deu terra para todos e água pra ser
regada,
Mas alguns ficam com tudo e muitos ficam
sem nada.
Os poucos contratam os muitos pra terra ser
cultivada,
Os muitos semeiam o joio e a guerra está
iniciada.
Sem terra, sem água e sem pão,
Sem direito, trabalho e comida, muito menos
um pedaço de chão.
Com a sua esposa e seus filhos, Zé da Roça
foi embora,
Sem ter pra onde ir, pra onde vai este
irmão agora?
Mas a culpa não é dele, mas será que a
culpa é nossa?
Pois só Deus sabe o destino, que terá o Zé
da roça!